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segunda-feira, junho 27, 2011

O INTERCÂMBIO DA PÓS-GRADUAÇÃO E A CRISE

O mundo passa por mais um solavanco financeiro, a que as novas gerações vão se acostumando; melhor dizendo, se adaptando. O capitalismo nunca foi um sistema estável, Marx já apontava isto ("tudo que é sólido se desmancha no ar"). Ocorre que, no tempo de Marx e até os dois terços iniciais do século XX, as crises do capital eram periódicas, com uma década, pelo menos, de interregno entre uma e outra. Agora, os economistas e a mídia nos apresentam um nova crise a cada piscar de olhos.
O que se passa, na realidade, é que o sistema entrou em crise permanente. O capitalismo tem demonstrado fôlego para reproduzir-se, reanimar-se, reconstruir sua face sem perder sua essência, a exploração. O que os economistas e a mídia identificam a cada momento como nova crise é apenas um aspecto da crise global, profunda, que já dura quatro décadas. Num momento fala-se em crise do petróleo, noutro em crise de energia, noutro ainda em crise de commodities, ou pode-se ainda atribuir a crise ao câmbio, aos juros, ao excesso ou à escassez de oferta ou de demanda, sempre se privilegia um aspecto da crise ocultando os demais.
Na crise do momento, os xerifes do capitalismo buscam encontrar o ponto de equilíbrio entre a produção e o consumo em nível planetário, portanto busca-se ajustar as regras do comércio internacional aos atuais níveis da oferta e da demanda no mercado mundial. Estas são questões complexas, que ultrapassam os limites deste texto. Contudo, para entender os rumos que a economia brasileira pode tomar, é preciso reter o fato de que os impasses nos negócios mundiais tendem a retrair as compras internacionais dos países ricos e afetam o preço do dólar, moeda considerada referencial desde o final da segunda guerra mundial.
Para o Brasil, país exportador desde os tempos da Colônia, a possibilidade de contornar a crise com ganhos reais passa pela ampliação do mercado interno, o que só se pode fazer com mais dinheiro nas mãos do povo. O que implica dizer que, enquanto se redimensiona a produção, gerando bens destinados ao consumo do povo brasileiro, é preciso ampliar as políticas sociais, de modo que os ganhos conjunturais possam tornar-se duradouros, ter sentido estratégico, oferecendo ao desenvolvimento uma base sustentável, uma estrutura menos vulnerável às crises nos paises centrais do sistema.
Não se trata de parar de exportar, já que o nosso clima, o solo e o sub-solo contribuem para a ampliação da produção de alimentos e de insumos, de que o mundo necessita. Trata-se de estabelecer um percentual maior da nossa produção para o consumo do nosso povo e, ao mesmo tempo, preparar melhor os nossos trabalhadores para projetar, gerenciar e operaracionalizar a produção. Desta forma, pode-se aproveitar a crise para crescer, seja no plano econômico, seja no social e cultural, estabelecendo assim bases efetivas para o crescimento político e o avanço da cidadania, valorizando a sociedade civil em relação à sociedade política.
Há um importante aspecto a considerar: não é possível obter esse crescimento de modo estável sem re-adequar a clientela dos programas sociais. Uma idéia chave é promover os beneficiários da bolsa-família a empregos estáveis, viabilizando sua auto-sustentação e liberando recursos para atendimento a setores ainda excluídos, como os moradores de rua, dependentes do uso abusivo de drogas e extensas camadas que estacionam em patamares perigosos de fronteiras entre o que se pode considerar uma pobreza digna e a marginalidade sócio-econômica.
Preocupa a cidadania, em especial os que se dedicam, pensam e propõem a educação massiva da população, a inapetência do empresariado para o risco e a avidez pelo investimento com o recurso dos impostos pagos pelo povo, através da busca abusiva de incentivos sustentados com renúncia fiscal promovida pelo Estado. Quando o governo federal procura estimular a pesquisa de ponta no país, com a concessão de bolsas para que os nossos jovens pesquisadores possam realizar estudos pós-graduados no Exterior, cria-se a oportunidade de que, daqui até a Copa, setenta e cinco mil estudantes aprendam o que há de melhor em ciência e tecnologia e tragam o conhecimento para o país. No entanto, esse esforço é todo governamental, sustentado com o dinheiro dos impostos.
Os pesquisadores, com seus estudos, subsidiarão as empresas com o seu saber, e muitos trabalharão diretamente para essas empresas. Seria justo que também elas contribuissem nesse esforço. Calcula-se que, se o setor privado concordar em entrar no acordo de formação da nossa elite intelectual e científica, o total possa passar de setenta e cinco mil para cem mil jovens pesquisadores. Seria o momento da elite empresarial mostrar que ultrapassou o século XIX e não apenas corre atrás do lucro, mas também se propõe a contribuir com a construção de um novo país.

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